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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um Filme Tão Bom Quanto o Livro

Os princípios ditatoriais restritivos da liberdade de expressão nunca foram e jamais serão qualquer forma de reeducação, mas um mecanismo sordido de manipulação de massas. Uma realidade não muito distante daquela que vivemos durante o período da ditadura militar. Mas "Balzac e A Costureirinha Chinesa" não se trata apenas de mais um exemplo de um marxismo equivocado. O filme é uma crônica sobre a felicidade da descoberta da literatura, sobre a fome insaciável pela leitura e o conhecimento, numa época em que as universidades na China foram fechadas e jovens intelectuais enviados para o campo para serem reeducados por camponeses pobres.

Isso aconteceu de fato no fim da década de 60, quando o líder chinês Mao Tse-Tung lançou uma campanha que seria conhecida por Revolução Cultural. Entre outras medidas para lá de radicais, o governo proíbe nas bibliotecas obras consideradas como símbolo da decadência ocidental. Balzac, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Rousseau, Dostoievski, Dickens foram todos banidos na China Maoísta. Contudo, mesmo sob a opressão do Exército Vermelho, a literatura universal haveria de sobreviver de alguma forma, como que agonizante, nas mãos de dois jovens chineses, ao abrirem uma mala velha, carcomida e empoeirada, onde os clássicos estavam perigosamente escondidos.


Na verdade, Balzac e A Costureirinha Chinesa começou como um fenômeno literário na França. Dai Sijie, um autor desconhecido de origem chinesa, lança de forma discreta o seu primeiro romance, com uma tímida tiragem de 2 mil exemplares. Contudo, bastaram duas semanas para que o livro esgotasse e a editora tivesse que reaquecer as rotativas. Uma nova edição levou a obra para o topo das listas de best-sellers, ganhando elogios nos principais jornais e revistas. O resultado contabilizou 175 mil cópias vendidas e a candidatura de Balzac e A Costureirinha Chinesa ao Goncourt, principal prêmio da literatura francesa. Uma fotografia lisérgica e um enredo envolvente faz deste filme uma das pérolas do cinema internacional. Um filme que faz refletir, pensar, divagar, sentir e ter a gostosa sensação de conteúdo no nosso mentalsoma.

Dai Sijie foi ele próprio submetido à reeducação. Ele vive na França há quinze anos, onde dirigiu três filmes de longametragem, dentre os quais Chine ma Douleur. Em Balzac e A Costureirinha Chinesa o autor levanta uma questão inquietante: como reagiríamos se coibidos de desenvolvermos nossos talentos, amordaçados por uma ditadura, retringidos de expressar nossas convicções e exercermos nossos princípios ? Seguramente a resposta atinge diretamente o campo do posicionamento íntimo, ricocheteia na autenticidade e resvala no risco que teríamos ao assumirmos quem realmente somos. Não posso, no entanto, imaginar o que foi viver no Brasil durante a ditadura militar, onde autores foram presos e suas obras banidas, artistas vigiados ou deportados e muitos estudantes universitários perseguidos, todos vivendo sob a sombra irracional, ameaçadora, grotesca, psicótica e obssessiva do comunismo. Andamos, decerto, no sentido inverso daquele imposto pelo ditador Mao. Mas, no fim, todas as formas de manipulação acabam indo na mesma direção: de encontro à liberdade democrática.

Entre os que tiveram de abandonar as cidades está o narrador de Balzac e A Costureirinha Chinesa e seu melhor amigo, Luo. O destino deles é uma aldeia escondida no topo de uma montanha. Neste local, eles devem aprender a se desapegarem de seus princípios capitalistas-ocidentais e descobrir como é a vida campesina revolucionária. Um vida, diga-se, nada fácil para a dupla de amigos, mas com muita coragem, senso de humor, uma forte imaginação e a companhia da Costureirinha — a menina mais bela da região — o tempo vai passando e eles vão exercendo suas convicções e alimentando decentemente seus espíritos através da leitura dos "livros proibidos." É quando eles descobrem uma mala repleta de livros banidos pela Revolução Cultural. As obras, sobretudo Ursule Mirouët, de Balzac, revelam aos adolescentes uma realidade que nunca haviam imaginado. E é por intermédio desse mundo novo, descortinado pelo escritor francês, muito além das muralhas chinesas, e também por outros grandes mestres da literatura que o narrador, Luo e a Costureirinha compreendem que suas vidas pertencem a algo muito mais importante.

A razão da existência, quando tem mesmo que acontecer, possui uma força assustadoramente forte e irremediável. É por meio desta força que as implicações desta união tripla de amigos ganham a realidade. Os laços de amizade dos amigos com a costureirinha, um cargo oficial que a jovem tem na vila, criam vículos e vincos para muito além daquela realidade. Esta liberdade concedida pelo livro de Balzac, uma ruptura com o autoritarismo intelectual, , os aponta novas direções e liberta seus talentos, sem julgamento nem conclusões, para serem o que vieram ser. Aqui, os efeitos sociais da literatura são enfim preservados e se comprova a tese de que ela pode de fato mudar o nosso universo interior. É difícil imaginar qualquer tipo de evolução consciencial sem a participação efetiva da leitura, sem as mudanças radicais que os livros realizam no intelecto humano - seja através de estudo, pesquisa, experiência ou puro encantamento. Assim como é improvável encontrar sentido em qualquer ideal revolucionário sem saber o que ele significa.




Vidas em Loop

Se pudéssemos decupar nossa vida e colocar as cenas do que vivemos até aqui num filme, numa rotação acelerada, nos veríamos repetindo tantas vezes as mesmas coisas que teríamos vertigem com a nossa própria automimese. Buñuel deve seguramente ter feito esse exercício ao criar O Anjo Exterminador. O resultado é uma obra inquietante e suficientemente reflexiva aos mais engajados com a evolução pessoal. O surrealismo de Buñuel toma emprestado dos pesadelos suas técnicas narrativas.

O cineasta surrealista espanhol segue fortemente a linha dos seus amigos, Salvador Dalí e Federico García Lorca. Seus filmes, mais do que apresentarem situações absurdas ou ininteligíveis, criam atmosferas de sonho (ou pesadelo), mas nada que nos afugente. Muito pelo contrário, Buñuel é cinematografia obrigatória ao curriculum dos aficcionados mais exigentes, pois ele faz cinema com conteúdo de gente grande. Interpretar os filmes de Buñuel requer, no entanto, um dose satisfatória de conteúdo pessoal de psicologia humana, pois ele trabalha com símbolos nem sempre reconhecíveis na realidade comum, mas presentes no inconsciente. O extermínio, aqui, é das convenções e das máscaras cultivadas na sociedade, sobretudo na aristocracia, que luta por uma sobrevivência muitas vezes de pura aparência.

O Anjo Exterminador é uma de suas maiores obras-primas. Repleto de cenas legendárias, pode-se entender o que está ali de diferentes maneiras. O tom e o clima do filme são fiéis ao surrealismo do cineasta, mas a narrativa em si é mais convencional, e talvez por isso a obra seja ainda mais genial. O filme é especialmente célebre por possuir um dos plots mais originais da história do cinema: um grupo de pessoas da alta sociedade, após passar a noite na casa de um deles, se vê impossibilitado de sair da sala, mesmo com a porta escancarada. Mas o que aparentemente parece ser uma idéia sem sentido, ilógica e estranha abre margem para um tema de reflexão extremamente rico: a falta de posicionamento diante dos fatos, a repetição mimética da vida na sociedade, a devoção por aparências, os mata-burros estagnadores, os ganhos secundários desnorteadores da ação construtiva, a patologia humana diante da superficialidade da vida e assim por diante.

O próprio Buñuel diria "a moral burguesa é, para mim, uma imoralidade contra a qual há de se lutar; esta moral que se baseia em nossas instituições sociais mais injustas como são a religião, a pátria, a família e a cultura, em suma, o que se denomina os pilares da sociedade." Ele era radical, mas, embora sua contradição contra as imoralidades da sociedade se tornasse aparente por meio do machismo, que lhe era peculiar, Buñuel sabia criticar através da sua arte. O retrato da burguesia criado por ele de fato é fiel posto que descortina uma faceta cruel, fria e desumana de um nicho acima-do-bem-e-do-mal da sociedade. Não podemos negar as vulnerabilidades humanas da classe, representada aqui com certa complacência através de desvios padrões de comportamento, como a arrogância, a hipocrisia, o adultério, a vaidade, o preconceito, a desconsideração ao próximo, a imoralidade, além da inevitável ironia sórdida. O Anjo Exterminador atua como carrasco desses seres, que na visaõ do cineasta, preferem explorar e pisotear os menores, enquanto afundam-se no caviar e embreagam-se de champagne francesa.

Sem tomar partido, podemos levar boas lições do filme e um pacote de temas para reflexão, pois, burguesia a parte, somos todos humanos e, em maior ou menor grau de vulnerabilidade, com maiores ou menores conseqüências, sofremos mais ou menos dos mesmos males.


Psicologia no Cinema III

Em Abril Despedaçado vemos a mimese patológica de duas famílias rivais que, no interior do Nordeste, matam seus vizinhos por incontáveis gerações. A história transcorre no Brasil de 1910. No filme, a aridez nordestina, a subserviência e a hierarquia norteiam enredo e personagens. O pai protagonista é extremamente severo e rígido com os filhos, causando-lhes o esquema da "menos-valia," baixa auto-estima e complexo de infeiroridade. Os filhos agem diante do pai com respeito e medo. É possível perceber as reações nos filhos do sentimento de desprezo do pai. Com isso, não resta aos filhos muito mais do que a opção da fuga. Numa das cenas, um dos personagens recebe um livro de presente, para sua surpresa e encantamento. O livro assume uma importância que não podemos calcular. Mas está claro que, sendo uma tábuia de salvação como instrumento de fuga, o livro lhe chega em boa hora. O mundo curel que o cerca torna-se paralelo, através da leitura e das imagens do livro, pois ele nunca foi à escola. O final, antecipando-o sem estragá-lo no entanto, é trágico, mas mostra como o universo humano é complexo, cheio de diferentes personalidades, assim como das implicações dessas consciências na vida dos indivíduos. O filme gera muitas reflexões sobre a identidade e a existência humana, fadada, pelo menos até onde chegamos em termos evolutivos, a perpetuar automimeses desnecessárias, norteadas por padrões de comportamentos patológicos.

A grande razão de viver é evoluir e o insucesso da nossa
empreitada existencial é a estagnação, representada pela
falta de lucidez para o prórpio processo evolutivo. Mas de
que forma esta evolução é percebida ? Seguramente é certo
afirmar que a assistência ao outro é o denominador mais claro da nossa evolução terrestre. O grau de assistência que fazemos determina o quão em caminhos evolutivos estamos, assim como o egoísmo e a falta de assistência no nosso comportamento pode marcar o quão distante estamos do ideal propulsor da evolução. No filme A Corrente do Bem, temos um bom modelo do processo assistencial ideal: pratique o bem sem importar a quem, e sem esperar retornos. Um garoto realiza um projeto inédito para a escola: fazer uma corrente entre as pessoas através da qual elas teriam que praticar um ato de bondade aos outros sem esperar devoluções. Cada pessoa teria que fazer tal ato a três outras pessoas, pedindo para que elas estendessem a corrente indefinidamente. O fime traz discussões importantes sobre as dificuldades do relacionamento familiar, nosso grupocarma mais próximo e prioritário, e o entendimento do pensamento dos jovens. Da mesma forma, levanta a poeira para reflexões sobre conceito de justiça e moral, temas urgentes a serem colocados em prática, pois, na teoria, todos os conhecem muito bem.

Ninguém pode se corrigir antes da autoreflexão e tomada de consciência sobre os erros. Antes disso também ninguém pode ser culpado de nada, pelo simples fato de que, na existência humana, não há julgadores, nem juri, nem juiz - com todo respeito ao purgatório religioso. Mas o fato é que, antes da consciência assumir a sua própria necessidade de mudar, corrigir seu comportamento e enfim evoluir, não haverá quem o faça em seu lugar. Nesse ponto existencial, aparece Robert De Niro em Máfia no Divã. Ele é o chefão da máfia que quebra as regras do "homem não pode chorar" quando sua consciência entra em crise e se desmancha em lágrimas de crocodilo diante do seu terapêuta, Billy Crystal. O filme é uma comédia, mas consegue mostrar bem o momento da reversão existencial de um criminoso, os benefícios e o poder mítico de uma boa terapia, posto que é temida até pela própria máfia, preocupada no que pode se tornar o chefão De Niro depois da alta médica.

O próprio Prof. Henri Laborit explica em Meu Tio da América sua teoria sobre como o ambiente interfere na formação da personalidade dos seres humanos. Mas dessa vez, ao invés de ratos de laboratórios, os objetos de investigação são dois homens e uma mulher, de cidades, origens sociais e familiares diferentes, cujas vidas são acompanhadas desde a infância até a fase adulta. "A única razão de ser de um ser é ...ser. Conservar a sua estrutura."
Com esse impacto verbal, Alan Renais abre o seu filme e mostra de imediato a sua intenção: o aprofundamento do estudo da figura humana. o diretor aborda os mecanismos da memória e o paralelismo de épocas diversas de maneira bastante especial, criativa na forma e no conteúdo, e ainda transbordante de informação e reflexão crítica. As idéias, experiências e conclusões do cientista Henri Laborit, o mesmo que descobriu o funcionamento das sinapses neurôniais, motivam análises mais profundas, como a luta pelo poder, uma luta que não respeita os direitos dos outros e provoca conflitos. Revela a ambição da propriedade sem restrições e sem limites. É um filme que merece ser visto algumas vezes, tal é a riqueza de informação do seu conteúdo que, aos poucos, pode ser digerido sem contra-indicações.


Baseado no best-seller e premiado romance de Irvin Yalom, o filme Quando Nietzsche Chorou conta a história de um encontro fictício entre o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o médico Josef Breuer, professor de Sigmund Freud. Nietzsche é ainda um filósofo desconhecido, pobre e com tendências suicidas - isso é verídico. Breuer passa por uma má fase após ter se envolvido emocionalmente com uma de suas pacientes, Bertha, com quem cria uma obsessão sexual e fica completamente atormentado. Breuer é procurado por Lou Salome, amiga de Nietzsche, com quem teve um relacionamento atribulado. Ela está empenhada em curá-lo de sua depressão e desespero, assim pede ao médico que o trate com sua controversa técnica da “terapia através da fala”. O tratamento vira uma verdadeira aula de psicanalise, onde os dois terão que mergulhar em si próprios, num difícil processo de auto-conhecimento. Eles então descobrem o poder da amizade e do amor. Sobre Psicologia, o filme tem um farto repertório de informação, além de um apanhado geral sobre a personalidade atormentada do renomado filósofo, cuja obra, particularmente, tenho grande admiração e interesse. Recomendável.

O clássico Sociedade dos Poetas Mortos não poderia ficar de fora desta lista, que poderia até ser mais extensa
se incluíssemos filmes em que protagonistas mudam padrões arraigados de comportamento de uma comunidade. No filme em questão, um professor consegue mudar as estruturas rígidas e preconceituosas de uma escola americana na década de 1950. Nele também vemos como a comunidade, aqui de alunos, apresenta uma modificação de comportamento em função das atitudes positivas do professor. O mesmo Robin Williams, diga-se, havia feito algo do gênero em Patch Adams. Nesta obra obrigatória a todo candidato a bom cinéfilo, o ponto mais significativo fica por conta da representação das conseqüências que a usurpação (e distorção) dos valores pessoais causa no indivíduo. Não estarmos alinhados com o nosso melhor nos aniquila como pessoa. Quando essa usurpação de valores não causa danos irreversíveis, como foi o caso do personagem do filme, nos torna marionetes do meio, robôs manipulados para atender uma necessidade de sobrevivência apenas, em detrimento da vocação, fator essencial para a realização pessoal. A reflexão aqui fica por conta do que fazemos por automação, pelos outros, por repetição, sem realização íntima, sem o completismo de uma programação existencial original, legítima e fundamental para a evolução.

sábado, 4 de julho de 2009

Ilusões Vitais

Quanto tempo pode ser necessário para entendermos que a realidade em que vivemos não é exatamente aquela na qual acreditamos ? A resposta correta exige lucidez para entendermos os fatos e discernimento para concluirmos da forma correta tal realidade. Em ambos os casos não é nada difícil estarmos equivocados, siderados em crenças ou enganados por idéias psicóticas.

Psicose é um termo psiquiátrico genérico que se refere a um estado mental no qual existe uma perda de contato com a realidade. Ao experenciarmos um estado psicótico, nossos pensamentos ficam desorganizados, alucinado e em delírio. A falta de discernimento gera uma falha crítica, que se traduz numa incapacidade de reconhecermos o caráter estranho ou bizarro do nosso comportamento. Desta forma surge a dificuldade de compreendermos a realidade externa na qual vivemos. Muitos de nós têm experiências fora do comum ou mesmo relacionadas com uma distorção do que é real em algum momento da vida. Portanto, a psicose não se restringe apenas aos que sofrem de algum problema psiquiátrico patológico crônico. Muito pelo contrário, a psicose em algum nível faz parte do comportameto humano, através de idéias fixas e repetitivas e teimosias sem sentido que conservamos, contra toda a opinião externa.

Quando a psicose interfere na veracidade de nossas convicções a situação fica mais séria. A dificuldade que por vezes temos para entender uma determinada situação, condição ou contexto pode causar riscos à nossa interação social e, sobretudo, às nossas relações mais próximas. Exercitar o discernimento e a lucidez, por meio do autoconhecimento e da auto e heterocrítica, pode nos livrar de probelmas maiores, como a cronicificação do estado patológico. No filme de Rodrigo Garcia, Passageiros, o psicotismo ganha uma dimensão extrafísica, mas o diretor não perde a lucidez em nenhum momento. Aqui, a parapsicose está tratada de forma pensada e ordenada através de um bom roteiro e de maneira honesta e sem sensacionalismos por meio de uma produção limpa e direção sóbria. Está tudo ali e é daquele jeito mesmo.

Considerando a variável multidimensional, dizemos que o nosso comportamento reflete o que há em nossa psicosfera (bioenergética). Contudo, mais do que considerar aqui o nosso universo bioenergético, o comportamento psicótico está plantado na memória integral da consciência, na paragenética humana, ou mais dieratmente, na história consciencial, construída a partir de suas experiências intra e extrafísicas. Por isso a dificuldade que temos de nos livrarmos de antigos hábitos entrópicos, desorganizados e improducentes. E como é difícil mudarmos um comportamento arraigado. Desde parar de fumar até o ato de erradicar uma depressão, o comportamento "antigo" nos deixa apenas sob uma forte pressão da vontade, com obstinação e por meio da paciência. E, claro, quando isso não é resolvido no ambiente físico, não há razão para nos livrarmos desse fardo depois da morte física. E aí o negócio muda de figura sob inúmeros aspectos.

Quem ainda não ouviu histórias de espíritos que se recusam a aceitar a morte física, que perambulam pelos locais onde viveu, que não abandonam os entes queridos, que revivem o momento traumático em que morreram, que acreditam psicoticamente que ainda estão vivos ? Se essas condições lhe parecem coisas do "outro mundo," que tal nos colocarmos na situação em que psicoticamente também acreditamos no que não existe: uma pseudoamizade, um ponto de vista equivocado, um sonho, uma fantasia, um auto-engano, enfim, em situações que, na verdade, não percebemos que ficaram no passado.

Lamentamos as mudanças porque as lembranças do passado são mais fortes do que a realidade. É difícil abrir mão do que temos, dizer adeus, fechar ciclos, corrigir comportamentos, ou simplesmente mudar de emprego. Qualquer mudança é motivo de pânico para os neofóbicos. E quando tais mudanças cruzam dimensões, as superações ganham uma força extra. Não deixamos de ser quem somos após a morte física, e posso até arriscar a pensar que somos muito mais o que somos no além do que no aquém, pelo simples fato de reassumirmos a memória integral, onde não apenas as lembranças da útima experiência física existem, mas a memória de toda a nossa história consciencial, pessoal e atemporal.

Após um trágico acidente aéreo, a jovem (e bonita) psiquiatra Claire (Anne Hathaway) é escolhida por seu chefe para atender dez sobreviventes do vôo fatídico. Enquanto ela ouve os relatos de todos e coleta informações do que pode ter acontecido, Claire conhece o misterioso Eric (Patrick Wilson) e se sente atraída por ele. Os dois enfim se aproximam de uma forma tão intensa que essa relação vai além do campo profissional. No decorrer do tempo, os outros sobreviventes começam a desaparecer inexplicavelmente e Claire acredita que Eric tem as respostas para esses estranhos acontecimentos devido a visões que ele mesmo diz ter. Agora a jovem fará o que for preciso para descobrir a verdade sobre o que aconteceu e pode chegar a respostas surpreendentemente assustadoras. Assistam.