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sábado, 12 de janeiro de 2013

ÁREA Q MOSTRA QUE PODEMOS FAZER ALGO ALÉM DE COMÉDIAS

O filme Área Q do diretor Gerson Sanginitto sai da linha do que está se tornando a especialidade do cinema nacional: a comédia. E não só: com ele, podemos acreditar que podemos fazer mais do que produzir dramas da seca ou que retratam a violência, o comércio de drogas, sexo e de quebra as comédias românticas. Isso não signifa que sejamos bons no gênero da ficção científica, mas a coprodução americana é a bicicleta de rodinhas que precisávamos para fazer algo de qualidade.

Confesso que ao pegar o filme eu não lhe dei os devidos créditos, mas como está tão difícil encontrar algo além da comédia, das histórias de amor e dos dramas nordestinos no cinema nacional hoje em dia, resolvi arriscar na esperança de que, enfim, algo de qualidade no gênero tivesse sido feito. E foi assim que assisti Área Q: minuto a minuto, buscando algo para criticar, reclamar, me decepcionar... mas não encontrei... para meu alívio. Sim, nós podemos fazer um bom filme de ficção científica!

Mas o diretor foge aos rótulos. Em entrevista ao G1, Gerson Sanginitto disse que “este filme não é espírita, não é religioso, a gente não fala de religião, não é doutrinário. Não é nem ficção científica, que eu acho que até diminui um pouco o filme”, continua o cineasta. “Esses elementos de ficção, essa abordagem sutil espiritualista, na verdade é um pano de fundo para o drama desse pai que está à procura do filho que desapareceu.”

Protagonizado por Isaiah Washington, que trabalhou com Spike Lee e viveu o dr. Burke no seriado Grey's Anatomy, e com Murilo Rosa e Tania Khallil, Área Q conta a história de abduções no interior do Ceará, numa região povoada por cidades que começam com Q, Quixadá, Quixeramobim etc. Os casos parecem de fato serem verídicos segundo conta o relato dos habitantes dessa região e a ideia do diretor foi inicialmente retratar tais depoimentos. Isaiah Washington vive o jornalista que é enviado ao interior do Ceará para fazer uma reportagem sobre as abduções e descobre nessa experiência que o sumiço do seu filho, nos EUA, anos antes, está diretamente ligado aos casos dos desaparecimentos brasileiros.

O roteiro, embora ainda repetindo fórmulas antigas da nossa escola, com algumas tomadas longas, cenas explicadas além da conta, foi escrito com maestria no quesito tratamento. É muito legal ver que podemos escrever roteiros como os americanos - bem urdido, com elipse de tempo, com sub-plots que convergem para um final surpreedente, dando à estória um acabamento envolvente e ao espectador a sensação de que ele não passou quase duas horas diante da tela. Talvez alguns críticos com Steven Spielberg na cabeça encontrem alguma coisa para dizer que Área Q é um embrião no gênero - para mim, foi uma mais do que grata surpresa.


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