Na sessão de sábado, SONATA DE OUTONO de INGMAR BERGMAN. O
homem está demasiadamente preso à suas autodefesas para tornar-se um ser
reconciliador, e quando a reconciliação torna-se uma condição de sobrevivência
afetiva, os limites dos universos intraconscienciais se expandem na urgência de
enfrentar quem realmente somos ao custo da dor de mudar. Fugimos dessa dor que
causamos aos outros por ser a mesma dor que causamos a nós mesmos. Ao contrário
do que imaginamos, a dureza das piores atitudes revelam a fraqueza do caráter,
não pela virulência com que essa dureza se expressa, mas pela fragilidade a
partir da qual as suas couraças, que nos ajudam a fugir da realidade, nos
encerram em recônditos cômodos obscuros. Ingmar Bergman constrói um cenário
realista do processo reconciliatório em Sonata de Outono, colocando fortes e
fracos na mesma ponta de galho em meio à uma ventania de outono.
Na medida em
que as confrontações derrubam máscaras e removem couraças, as palavras
desnudam, afastando mentiras defendidas como verdades. Mas ao fim de suas
cenas, Bergman mostra-se um profundo estudioso da psicologia humana ao optar
por um final em que, sensatamente, conclui que, ao mentir em demasia para si
mesmo, o homem altera indefinidamente a sua essência, não por sua incapacidade
de cura, mas pela falta de lucidez contraída enquanto ele se manteve escondido
nas suas mentiras e das quais sente-se incapaz de sair. Mas a sua condição não
parece desesperançosa. Resta a compreensão movida pelo amor - o velho antídoto.
A intensidade de Bergman e sua profundidade narrativa extasiam os amantes do
seu grande cinema-filosófico-psicológico. Sonata de Outono é um clássico
atemporal para quem gosta de filmes que educam. Revejo esse filme como se lê um
bom livro duas vezes ou mais, e a cada olhar, a obra-prima de Bergman ressurge
fresca e renovada.
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